Apesar de ser um tema pouco abordado a acumulação desordenada de animais e coisas é mais comum do que se pode imaginar
Por Fabiana Sarmento de Sena Angerami
Foto: Arquivo pessoal – Renzo Angerami
Possivelmente conhecemos ou já ouvimos falar sobre um acumulador, sem, contudo, darmos a devida atenção ao problema. O tema gera tanta polêmica e estranheza que existem programas de televisão que discorrem sobre o assunto, como a série norte-americana “Acumuladores”, apresentada pela Discovery Home & Health, que fala sobre a triste realidade em que vivem alguns acumuladores.
Os acumuladores são pessoas que têm uma obsessão por conservar objetos de forma indiscriminada, mesmo sem a menor necessidade ou lugar adequado para guardá-los. Existe, também, outra espécie de acumulador, que tem como compulsão reunir uma quantidade enorme de animais. Eles acreditam que estão fazendo uma boa ação para animais abandonados ou vítimas de maus tratos e com isso, os mantêm amontoados, em lugares superlotados, sem alimentação e cuidados veterinários adequados, causando uma situação de stress e insalubridade, tanto para os animais como para os próprios tutores.
Na semana passada tivemos a notícia de que a Delegacia de Polícia do Meio Ambiente de Santo André – DICMA, foi acionada por meio da organização não governamental “ONG – Focinhos Carentes” e pelo “Projeto Leis e Bichos”, para atender uma denúncia de maus tratos no Bairro Floresta, em Santo André, onde uma mulher estaria mantendo, aproximadamente, quarenta gatos confinados.
Entramos em contato com o investigador Renzo Angerami que nos contou que no local indicado, uma casa com dois cômodos de aproximadamente 40m², a equipe da DICMA encontrou uma situação assustadora. O pequeno espaço, amontoado de coisas, era divido por mais de quarenta gatos, um cachorro, a tutora e duas filhas, sendo uma delas portadora de necessidades especiais. Havia gatos por todos os lados, nas cadeiras, mesa, cama, em cima do armário, fogão, pia, passeavam por entre panelas e pratos. Além disso, as janelas estavam fechadas para que os animais não fugissem, havia fezes de felinos pelo chão, potes com ração e um forte cheiro de urina; o que motivou uma série de denúncias por parte dos vizinhos.
Renzo explicou que os acumuladores não são pessoas mal-intencionadas. Tratam-se, na verdade, de pessoas doentes, com um transtorno comportamental que deve ser submetido a tratamento psicológico ou psiquiátrico. De modo geral, essas pessoas não conseguem ter uma noção exata da realidade, não são capazes de entender que seu comportamento pode causar danos para si e para outros.
No caso de animais, os acumuladores os acolhem com o fim de protegê-los do abandono ou de maus tratos. Veem-se como protetores e não compreendem que amontoar animais em um pequeno espaço, sem condições de alimentá-los ou de proporcionar-lhes cuidados veterinários, põe em risco não apenas a saúde dos bichinhos, mas também a própria saúde e a de todos que o cercam.
Embora a maioria das pessoas trate a acumulação como um transtorno de menos importância, a verdade é que essa conduta pode causar sérios problemas. Sem tratamento, o acumulador pode desenvolver outras doenças como depressão, transtorno bipolar, síndrome do pânico, esquizofrenia, dentre outras.
Os espaços onde objetos e animais são amontados, por sua vez, invariavelmente, sem os devidos cuidados de higiene, acabam se transformando em nascedouros de doenças, como alergias, infecções, além do mau cheiro, proliferação de vírus, fungos e insetos, que acaba por atingir toda a vizinhança.
No caso do Bairro Floresta, felizmente, após um trabalho de conscientização por parte da equipe da DICMA e do “Projeto Leis e Bichos”, a tutora se convenceu do problema e da condição insalubre em que vivia com seus peludos e doou os animais para a “ONG – Focinhos Carentes”. Contudo, nem sempre os casos apresentados para a polícia têm um final como esse. São muitos casos apresentados que se transformam em longos e dolorosos inquéritos policiais e processos judiciais.
O objetivo dessa matéria é chamar a atenção para o problema de pessoas com transtorno de comportamento de acumulação, principalmente, a acumulação de animais.
Como podemos perceber essa questão é muito maior e mais grave do que aparenta ser e, portanto, não pode e não deve ser tratada por apenas um órgão de apoio. Afinal, a acumulação não se resume a um problema de segurança pública, envolve saúde pública e atendimento psicossocial, além do necessário acolhimento dos animais vitimas, uma vez que polícia não possui local para destinar os animais apreendidos e nem sempre é possível encontrar uma ONG que o faça como voluntariado.
É preciso voltar os olhos para o assunto com um pouco mais de carinho, deixar críticas, sátiras ou menosprezo de lado e encarar a questão da acumulação como um problema atual que afeta milhares de anônimos.
O debate se faz necessário e urgente, posto ser de suma importância que a sociedade e o Governo entendam de uma vez por todas que acumuladores não são simplesmente algozes ou pessoas desleixadas, mas vítimas de seu próprio mundo!
Mais detalhes em Facebook: @leisebichos.