Especialista esclarece dúvidas sobre diagnóstico, tratamento e outros pontos importantes
Por Monique Martorelli, psicóloga clínica infantojuvenil
Foto: Arquivo pessoal / Monique Martorelli
Nos últimos anos, houve um aumento significativo nos diagnósticos de autismo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 em cada 100 crianças é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) aponta que aproximadamente 2 milhões de pessoas vivem com o transtorno. Um dos motivos para o aumento é o avanço nas técnicas que permitem diagnósticos mais precisos.
Atualmente, existem diversas terapias para o tratamento do autismo que variam conforme seus métodos e perspectivas. A psicanálise é uma delas, conhecida por sua análise profunda do inconsciente e dos processos psíquicos. Esta abordagem foi desenvolvida por Sigmund Freud no final do século XIX e dedica-se ao estudo do autismo desde o início do século XX, teorizando a respeito do quadro clínico através de uma escuta atenta das experiências dos autistas.
O que é o Autismo?
O autismo é classificado dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Este espectro incorpora diferentes tipos de autismos e síndromes com critérios diagnósticos comuns, variando de leve a severo conforme o nível de suporte necessário.
Na psicanálise, o autismo é visto sob uma ótica diferente das abordagens tradicionais. A psicanálise se coloca em posição de aprendiz frente aos autistas, entendendo suas defesas e modos únicos de interação com o mundo. Para a psicanálise, os autistas muitas vezes se recusam a entrar no sistema de trocas sociais e no universo da linguagem convencional. As principais características incluem dificuldades na comunicação social, uma forte tendência à imutabilidade (necessidade de manter tudo igual) e uma busca por isolamento. Esses comportamentos são vistos como maneiras de organizar um mundo percebido como confuso e difícil de entender.
A Abordagem Psicanalítica: Além do Diagnóstico
Um ponto importante da psicanálise é que ela não se reduz a um diagnóstico estático. As dificuldades de uma criança podem estar associadas a fatores biológicos, psíquicos, familiares, escolares e sociais. Assim, os sintomas são entendidos como modos de defesa frente a uma angústia, e não como meras manifestações de um transtorno orgânico. Cada caso é tratado como único, sem a intenção de objetivar ou classificar os fenômenos observados.
Além disso, a abordagem psicanalítica é cautelosa com prognósticos. A vida de Temple Grandin, uma autista de alto funcionamento e PhD, nos serve de exemplo. Ela desafiou todos os prognósticos negativos recebidos na infância, e se tornou uma renomada cientista. Sua trajetória ilustra que nem mesmo as pesquisas mais bem embasadas podem prever o curso da vida de cada um.
Tratamento Psicanalítico do Autismo
Gradin faz uma advertência norteadora para o tratamento psicanalítico do autismo: “não nos privem de nossas defesas, de nossas maneiras de organizar o mundo”. A psicanálise não visa extinguir sintomas, mas ajudar o indivíduo a reduzir seu sofrimento. Respeitar as defesas e maneiras de organizar o mundo dos autistas é um pilar para o psicanalista, que utiliza dessas características para facilitar a inserção social, seja na escola ou no trabalho. O psicanalista não descarta as estereotipias e objetos a que os autistas se apegam, vendo-os como pontos de entrada para a comunicação. Existem diversos relatos de progresso ao aproveitar os interesses específicos da criança autista.
A psicanálise se distancia de prescrições generalistas, preferindo adaptações individualizadas. As necessidades são analisadas caso a caso, evitando, no contexto escolar, por exemplo, rotinas e modos de avaliação generalizados para crianças com TEA. Quanto mais as adaptações são definidas de modos padronizados, menores as chances de sucesso em contemplar a subjetividade de cada sujeito.
Acolhimento às Famílias de Autistas
Por fim, a psicanálise também cumpre um papel importante no acolhimento das famílias de autistas. Muitas vezes, a falta de reciprocidade social dos autistas é desafiadora. A escuta psicanalítica apoia essas famílias, incentivando-as a se conectarem mais com a criança e desapegarem-se de receitas prontas, em um processo de tentativas e erros.
Portanto, a psicanálise é para aqueles que buscam acolhimento, por meio de um tratamento mais humano e inclusivo, ao respeitar as peculiaridades e o ritmo de cada pessoa no espectro autista.
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Monique Martorelli, psicóloga clínica infantojuvenil (CRP 06/202650) – Educadora Parental pela Positive Discipline Association (EUA), pós-graduanda em Psicanálise com Crianças pelo Instituto Sedes Sapientiae e com formação em “Autismo e Psicanálise”.
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