Especialista explica a ação do açúcar nos dentes e a importância do consumo moderado
Texto: Assessoria CROSP
Foto: Divulgação
Além de garantir a sobrevivência, os alimentos contribuem para a manutenção da saúde e qualidade de vida. Quando pensamos em alimentação e saúde bucal, uma das principais preocupações envolvem os açúcares, isso porque, basicamente, temos o açúcar como fator preponderante no aparecimento da cárie dental.
O Cirurgião-Dentista e membro da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Nívio Fernandes Dias, explica que a cárie, para existir, precisa de açúcar frequente na boca, e não necessariamente da quantidade de açúcares. “Por exemplo, se comer uma barra de chocolate inteira terá um efeito, mas se pegar essa barra de chocolate, quebrar em dez pedacinhos e comer um pedaço a cada meia hora, terá um efeito dez vezes maior”.
De acordo com o especialista, isso acontece porque existe no dente o biofilme, que é a placa bacteriana que está presente na boca. Ela só sai com a limpeza, com a escovação e com o uso do fio dental. A placa, portanto, está presente na boca o tempo todo.
Dr. Nívio detalha que, na hora que comemos algo com açúcar, como uma bala, um sorvete, uma bolacha recheada, um café com açúcar ou leite com chocolate, esse açúcar vai permear a placa, vai estar dentro da placa e dentro da placa bacteriana. “Existem bactérias que precisam desse açúcar para produzir energia para sobreviver. Elas pegam esse açúcar e o metabolizam para produzir energia. O subproduto disso é que elas liberam um ácido chamado lático, o mesmo ácido que é liberado no músculo quando fazemos atividade física. Quando o músculo começa a queimar, é o ácido lático que está sendo produzido e liberado na produção de energia. É a mesma coisa, só que no dente: esse ácido, em contato com o dente, começa a corroer o esmalte”.
O Cirurgião-Dentista explica, ainda, que o esmalte começa, então, a desmineralizar e a perder mineral para a placa. Ele compara esse processo a uma casinha cheia de tijolos; cada tijolo é um cálcio e ele vai saindo quando o pH da boca está baixo pela ingestão de açúcares. Depois de algum tempo a saliva lava e vai elevando o pH da própria saliva; depois, vai recolocando esses tijolinhos de cálcio no dente, ou seja, fazendo a remineralização. “A placa provocou a desmineralização e a saliva a remineralização. A cárie se instala quando existe um desequilíbrio nesse processo. O consumo frequente de açúcar durante o dia faz com que eu tenha um desequilíbrio e essa balança vai pender para a desmineralização. A partir daí, o dente começa inicialmente com uma mancha branca, essa mancha vira uma cavidade e essa cavidade é uma cárie”.
Prevenção
A doença conhecida como cárie, de acordo com o Dr. Nívio, não se resume ao buraco no dente. O buraco no dente é um sinal da cárie. Ele explica que a cárie, assim como, por exemplo, a catapora, é uma doença única que se manifesta por meio de várias feridas. “Não temos, por exemplo, 10 cáries, temos 10 lesões de cárie, ela é uma doença única também. Restaurar essas lesões é um tratamento para o sinal da doença e não para a doença. Portanto, o tratamento da cárie, entre aspas, é a prevenção, o conhecimento, explicar ao paciente os malefícios do consumo frequente de açúcares e o que eles podem causar. São os açúcares mais simples, sacarose e glicose, que são facilmente metabolizados pela placa bacteriana”.
Dr. Nívio esclarece que, quando falamos em açúcares e carboidratos dos alimentos, como arroz, batata, mandioca e frutas, dificilmente haverá uma desmineralização grande a ponto de poder causar uma lesão de cárie. Ele lembra também que a cárie depende basicamente de prevenção e que o único medicamento que “ajuda” a manter o equilíbrio quando a pessoa ingere açúcar é o flúor.
A presença do flúor na boca ocorre por meio da utilização de cremes dentais e nas aplicações em consultórios. “O flúor presente na boca frequentemente faz com que o esmalte do dente fique mais protegido da cárie dental. Portanto, ao escovar os dentes com creme dental com flúor, promovemos a presença dele na boca durante o processo de desmineralização. Quando o dente vai ser remineralizado pela saliva, esse flúor entrará no dente tornando-o mais resistente”.
Tempo certo para a escovação
Após a alimentação, promover a higienização dos dentes é fundamental, contudo, existe um tempo certo para realizar a escovação. Segundo Dr. Nívio, quando acabamos de comer não devemos escovar imediatamente os dentes, pois quando ingerimos um alimento, o pH da boca está ácido e os dentes estão sendo corroídos. Ele explica que, se além da corrosão química, que é chamada de biocorrosão, esfregarmos os dentes durante a escovação, aumentaremos o dano.
“Antes se falava “comeu, escovou os dentes”, hoje não faz sentido assim. O ideal seria se eu pudesse escovar os dentes antes de comer porque aí eu removeria a placa bacteriana e não teria tantas bactérias para causar o dano, mas isso é muito pouco provável que aconteça. Então, o ideal é aguardar pelo menos de meia hora a quarenta minutos para fazer essa escovação, principalmente se houver ingestão de doces durante essa refeição”, conclui Dr. Nívio.