Prática que virou modalidade olímpica em 2021 promove o encontro entre pessoas e a ocupação do espaço público
Texto: Ivy Bianchi – Assessoria da Subprefeitura Itaim Paulista
Fotos: Thales Grulha
“De Skate eu vim, de skate eu vou. É desse jeito que eu sou. É o que tenho, é o que quero, é o que sei, é o que faço”. O trecho da música do cantor e compositor Chorão, da banda Charlie Brown Jr., um dos maiores símbolos brasileiros da cultura do skate, revela que essa atividade extrapola os limites do esporte e ganha significados simbólicos, de identidade.
O Skate ganhou intensidade entre os surfistas da Califórnia, EUA, na década de 1950, virou referência mundial e foi agregado às culturas consideradas marginalizadas, como o rap, o hip hop e o grafite. Com esse processo, cresceu também a discriminação.
Em São Paulo, no ano de 1988, o então prefeito Jânio Quadros chegou a proibir a prática na capital paulista. O principal motivo era que os praticantes se reuniam no Parque do Ibirapuera, onde a prefeitura funcionava na época. Os jovens fizeram passeata pedindo a liberação, mas a atividade só foi legalizada quando Luiza Erundina assumiu o cargo em 1989.
Para Mauro Calliari, administrador de empresas, doutor em urbanismo e escritor do livro Espaço Público e Urbanidade em São Paulo, se pensarmos na definição de cultura como um conjunto de valores de uma sociedade, certamente o que o pessoal chama de cultura do skate faz parte desse substrato.
Segundo Calliari, esta forma de expressão vai além da atividade em si e parece englobar vestimenta, gírias e comportamentos comuns que expande o grupo para além dos praticantes.
Ele afirma que o skate vem ganhando espaço nos projetos arquitetônicos e urbanístico. No Anhangabaú, por exemplo, o projeto foi alterado para poder abrir espaço para os praticantes que já se reuniam no local antes da reforma.
Na praça Roosevelt é possível ver o conflito entre os que andam de skate, e ainda as reclamações dos moradores quanto ao barulho causado pela batida do skate nos bancos durante o dia todo e até de madrugada. “São questões importantes de serem enfrentadas, uma vez que nossa meta como sociedade deveria ser a de buscar o convívio no espaço público.”
Já para Thales Grulha, skatista e dono do projeto Skate Com Propósito, localizado no Itaim Paulista, zona leste de são Paulo, o skate pode mudar a vida das pessoas, em todos os sentidos. “Até da galera que se sente excluída, sofre bullying, cola com a galera do skate e vê que é uma vibe diferente a gente se ajuda bastante.”
Grulha acredita que o skatista tem um olhar especial para a cidade. Onde muitos só enxergam um banco de praça, o skatista vê um desafio a ser superado. Por isso eles sempre estão em busca de novos lugares para ocuparem. Ele afirma que toda a cidade deveria estar dotada de locais aptos para a prática e que a periferia é quem mais sofre com a falta de espaços público para o skate.
E essa falta de espaços fez Thales criar uma pista de skate no fundo de sua casa e abri-la para quem quiser andar. “O clima de amizade vem da alma do skate e isso é fundamental. Somos uma tribo muito unida e temos muito a acrescentar na cultura brasileira.”