Lidar com a perda do seio para o câncer de mama é algo extremamente difícil e doloroso para muitas mulheres. Após a mastectomia, elas sentem a dor física e psicológica. Mas, uma simples almofada em formato de coração pode ajudar a mulher a ter mais conforto e a se sentirem mais acolhidas nessa fase complicada. Pensando nelas, um grupo de voluntárias de Santos, no litoral de São Paulo, se reuniu para doar amor e lindos corações de tecido às mulheres em tratamento contra o câncer de mama.
O trabalho solidário faz parte da ação mundial “Heart Pillow Project”, que começou nos Estados Unidos. O projeto foi descoberto e divulgado por Janet Kramer Mai, especialista em câncer de mama. A primeira vista, as almofadas não parecem ter nada de especial. Porém, foram desenvolvidas exclusivamente para mulheres que precisaram retirar a mama por causa do câncer.
A almofada é colocada na axila. Desta forma, neutraliza a dor da ferida cirúrgica e a dor a partir do braço e do ombro que costuma aparecer após a operação. A almofada proporciona apoio físico e psicológico, já que traz a paciente algo para agarrar como um símbolo de solidariedade.
Maria Cecília Lopes Fernandes, dona de uma loja de patchwork em Santos, conheceu o projeto pelas redes sociais e resolveu disseminar no comércio dela, onde há várias oficinas de artesanato. “Eu entrei em contato com uma ONG que fazia o trabalho e eles me mandaram os moldes e as instruções. Mandei imprimir os moldes e comecei a distribuir para o pessoal”, conta.
As frequentadoras da loja, que adoram trabalhar com artesanato, conheceram o projeto e logo aderiram à confecção dos corações. A maioria delas compra o tecido, a linha e o enchimento para fazer em casa.
“A almofada tem medidas certas e a quantidade de enchimento certo. Precisa ser 150 gramas e no formato. Não pode ter costura e nem emenda de tecido porque senão fica desconfortável”, explica Cecília. O tecido também deve ser 100% algodão e o enchimento deve ser com manta siliconada antialérgica. Não se pode colocar enfeites e nem perfume.
O primeiro passo é recortar o tecido usando o molde do coração. Na mão das voluntárias, a agulha e o tecido colorido se unem. Depois de colocar o enchimento, é só costurar bem na mão ou mesmo em uma máquina de costura e as almofadas em forma de coração estão prontas.
Quando as voluntárias terminam o trabalho, elas levam para a loja da Cecília, que virou um ponto de coleta das almofadas de corações. Ela se encarrega de doar para a ONG Lenços Solidários, que distribui as almofadas às mulheres que estão em tratamento contra o câncer de mama.
As voluntárias que fazem os corações têm consciência que aquelas não são simples almofadas. Algumas sabem ainda mais, pois já estiveram do outro lado e já tiveram câncer de mama.
Mãe de três filhos, Regina Celia Mateus, de 61 anos, retirou uma das mamas. Depois da cirurgia, fez um ano e meio de quimioterapia. Na época, não existiam as almofadas de coração. Hoje, ela convive com a vontade de fazer uma reconstrução da mama e a satisfação de poder oferecer um pouco mais de conforto para outras mulheres. “A gente usava o que tinha. Ficava um vazio e a gente ainda ficava com um dreno. Então, é muito complicado, principalmente, quando você vai deitar. Sinto falta até hoje. A almofada ajuda pra caramba”, conta.
Carmela Perrotta Lopes, de 70 anos, aprendeu as técnicas de corte e costura na adolescência e nunca largou o gosto pelo artesanato. Quando soube da ação, foi uma das mais empenhadas. Ela se emociona ao lembrar as várias vezes que o câncer atingiu sua família. “Minha irmã faleceu de câncer no ovário. Minha sobrinha faleceu de câncer de mama e minha outra irmã teve que tirar a mama”, conta.
As outras voluntárias comentam a dedicação de Carmela. Ela responde dizendo que mentaliza sempre intenções boas em cada coração. “Quero que a pessoa que receba seja feliz, que tenha fé. Isso foi a melhor coisa para mim. Faço de coração”, finaliza.
Fonte:G1